Traumatismos da coluna vertebral na criança

Epidemiologia

Fraturas nas crianças são raras, 2-4% dos pacientes em grandes centros de reabilitação de TRM.

Maior elasticidade de partes moles, potencial de crescimento, disco intervertebral mais resistente, placa fisária aberta e consequentemente, maior capacidade de remodelação .

SCIWORA

→ Spinal Cord Injury Without Radiologic Abnormalities → 20-30% por contusão, concussão e infarto do tecido neural. Hiperextensão e hiperflexão podem causar.

RM principalmente se grandes deformidades angulares.
Descolamento fisário Salter Harris tipo I, Rx normal, RM -> lesão tecidos disco-ligamentares.

Anomalias do Odontóide

Raras, mas podem levar a instabilidade atlantoaxial significativa (IAAx) → pós-trauma ou sintomas.
IAAx → leva a mielopatia compressiva, compressão artéria vertebral ou ambos

Anomalias congênitas

→ aplasia, hipoplasia e os odontóide(traumático ou congênito).
Localização: ortotópico -> posição normal; distópico: no occípito, perto do forame magno.

São comuns alteraçõess do odontóide: Síndrome Down, Klippel-Feil, Mórquio e displasia espondiloepifisária.

Luxação Atlanto-Occipital

Côndilo pequeno e articulações atlantooccipitais horizontais → risco de lesão por hiperextensão. Se luxação completa, transsecção da medula e morte, se sobreviver e após artrodese occipito –> C1-C2 fica tetraplégico, necessitando uso de respirador.

Luxação ou subluxação pós-infecção IVAS ou infecção pele –> Grisel → Tratamento: tração cefálica ou halo veste por 6-8 semanas, e pesquisar instabilidade no Rx dinâmico, SN artrodese occipito-C1-C2.

Fraturas do odontóide

Possui 3 núcleos de ossificação: 2 laterais primários e 1 apical secundário . São ligados por placas como a fise.

São fraturas pouco frequentes em crianças e raras antes dos 3 anos. Mas são 75% das fraturas da coluna cervical em crianças menores de 7 anos.

Quadro Clínico: compressão do nervo occipital maior, origina na raiz de C2. – São fraturas frequentemente associadas com lesão occipito-C1.

Diagnóstico: Rx AP, perfil (escorregamento no sentido AP) e oblíquas e transoral → ver fraturas e relação das massas laterais de C1-C2 e desvio angular da fratura.
RM: lesão discoligamentar

Classificação de Anderson e D’Alonzo:
I – topo, sem desvio, com traço obliquo – origem do ligamento alar → Os odontoideum pode significar pseudoartrose de fratura tipo I, se for fratura e instável, cirurgia.
II – junção do processo odontóide com corpo do áxis, traço transverso – origem do ligamento transverso. Alta taxa de pseudoartrose.
III – fratura através do osso esponjoso do corpo do áxis (desvio maior que 5 mm ou angulação maior de 10º → instabilidade)

As fraturas das crianças que ocorrem através da sincondrose são tipo III.

Mecanismo de Lesão
Trauma alta energia. São lesões fisárias na base do processo, por flexão (tipo II) ou no ápice por tração do ligamento alar (Tipo I).

Tratamento
I , II, III: redução e imobilização com haloveste por 6-12 semanas, Rx dinâmico, se não consolidar, artrodese posterior C1-C2 tipo Gallie, Brooks, outros (cirurgias com alto índice de complicações). P.O.: Com haloveste ou halogesso.
II → redução prévia ao haloveste.

Espondilolistese Traumática do Áxis

Raro, fratura do enforcado. Fratura do pars interarticularis de C2.

Mecanismo de trauma: trauma de alta energia com hiperextensão ou hiperflexão.
Tratamento: se lesões isoladas, haloveste ou gesso de minerva em extensão por 8 semanas .

Pseudo-artrose incomum após tratamento conservador. Rx dinâmico em perfil após, se instabilidade, artrodese C2-C3.
– Observação: Halo cefálico é o único que imobiliza a rotação da coluna cervical das articulações C1-C2.

Fraturas do Atlas

Raras. Lesão neurológica é raro.

Mecanismo de trauma: compressão axial leva a afastamento das massas laterais.

Diagnóstico –> Rx AP e transorais, TC

Tratamento: conservador com haloveste ou gesso de minerva → Rx perfil dinâmico após para ver instabilidade ligamentar residual.
– As lesões ligamentares atlantoaxiais são raras porque o processo odontóide fratura antes. A distância normal entre odontóide e arco anterior de C2 é de 3mm nas crianças. Se rotura, o atlas anterioriza e o odontóide posterioriza, com diminuição do canal vertebral.

Subluxação ou luxação rotatória atlantoaxial

Pode ser: trauma ou infecção(Grisel)
Raro, que melhora espontaneamente.

Quadro Clínico: dor, torcicolo, trauma pequeno, déficit neurológico e insuficiência artéria vertebral são raros.

Rx transoral (assimetria de massas laterais). TC determina grau de subluxação e desvio no AP.

Classificação de Fielding:
I – mais comum. Rotação do atlas sobre o odontóide. Cura espontaneamente. Usar colar de espuma para analgesia
II – desvio rotacional com escorregamento anterior de 3-5mm. Tto: redução sob tração cefálica, seguido de gesso minerva ou halogesso 6 sem. Após Rx, se instável, artrodese posterior C1-C2
III – desvio rotacional com escorregamento anterior maior de 5mm. Tto: semelhante a II
IV – desvio rotacional com escorregamento posterior do atlas secundário a hipoplasia ou aplasia do odontóide(é estável, mas pode desestabilizar pós trauma). Se grave instabilidade, artrodese.

Luxação, Subluxação e Pseudo-subluxação C2-C3

Luxação e subluxação devido ao trauma apresenta com dor, associada a lesões em face, crânio e pescoço.

RM: ver lesões osteoligamentares associadas. Se menor que 8 anos, bom prognóstico pós redução, se maior, mau prognóstico, necessário artrodese posterior curta pode ser necessário.

Pseudo-subluxação: achado radiológico. Reduz em extensão, sem necessitar manobras.

Fraturas C3-C7

Crianças mais velhas –> 8-11anos, coluna semelhante a de adolescentes.
Crianças novas → raro , tto : redução incruenta, tração contínua 6-8 semanas e SOMI-imobilizador
Adolescentes → artrodese posterior, dificil tto conservador. Pode se fazer laminectomia, e descompressão anterior SN, em crianças mais novas não, pois placa fisária aberta, levando a instabilidade, deformidade progressiva e mielopatia tardia grave.

Fraturas Toracolombares

– 0,6-0,9% dos TRM.
– Lesões torácicas e lombares correspondem a 40-70% das lesões vertebrais na infância e adolescência.
– SCIWORA 42,5%
– Fratura osteoligamentar 57,5% -> Maioria 16 anos.
– 20-30% com quadro neurológico → recuperação é maior se abaixo dos 8 anos
– 97% das fraturas das crianças, antes da fase máxima de crescimento, leva a deformidades, sendo 96% destas, curvas progressivas, que podem precisar de cirurgia.

As vértebras crescem por ossificação pericondral e aposição perióstea. Crescimento vertical ocorre por ossificação pericondral.
11-14 anos: pequeno núcleo ossificação
12-15anos: imagem anelar. A epífise anelar responsável pelo crescimento vertical.
14-15 anos: núcleo começa a se fechar, mas na região lombar, sexo masculino só aos 20-22 anos.
Disco intervertebral: mais hidrofílico, absorve mais choque, até 7-8 anos, quando é substituído por colágeno. Em crianças mais novas, as fraturas ocorrem mais central, lesando a placa fisária ou criando nódulos de Schmorl. Já em mais velhas, a lesão fisária ocorre mais na periferia.

Lesões graves:
1) fraturas da placa fisária do platô vertebral
2) estiramento da medula
3) outros mecanismos: invaginação do ligamento amarelo por hiperextensão; infarto medular por lesão da vascularização -T4a L1. Lesão da artéria radicular magna inferior de Adamkiecwicz e hérnia discal traumática.

Tratamento: conservador por 3 semanas. Descompressão cirúrgica apenas se agravamento neurológico. Evitar laminectomia, pela instabilidade. Deformidades tardias, como escoliose, cifose e lordose podem ocorrer secundário a lesões medulares e/ou radiculares.

Observação: Criança tem alto potencial de consolidar as fraturas, mas observar consolidações viciosas.
– RM pré-redução, ver compressão medular
– Cintilografia com Tecnécio pode ter hipercaptação
– As fraturas nas crianças pequenas ocorrem na placa fisária e nas mais velhas osteoligamentar

Fratura por fadiga do pars interarticular

Ocorre por hiperextensão, crônica e repetitiva. Em esportistas, como caratê, ginastas e halterofilistas
– L5 mais lesado

Tratamento inicial: conservador –> retirar atividade, colete OLS. Manter tratamento enquanto tiver cintilografia captante ( atividade osteoblástica presente).

Última modificação porMarcio R4
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