Definição
É uma luxação dorsolateral da articulação talonavicular e, ocasionalmente, da articulação calcaneocubóidea, associada com flexão plantar rígida e extrema do tálus, eversão (valgo) da articulação subtalar, e dorsiflexão fixa da parte média do pé sobre a parte posterior.
Epidemiologia
Deformidade rara. Em metade dos casos encontra-se isolada e na outra 50-60% associada a distúrbios neuromuscalares e genéticos.
– Sem predileção por sexo.
– Bilateral em 50% dos casos.
Patogênese
Associado com deformidades da medula, artrogripose. Alguns casos com trasmissão autossômica dominante com penetrância incompleta.
Quadro Clínico
– Superfície plantar convexa e rígida, aspecto de chinelo persa.
– O tendão calcâneo encontra-se contraído, e a parte posterior do pé está em uma posição equinovalga fixa -> RIGIDEZ.
– Poucas pregas posteriores no calcanhar.
– Cabeça do tálus pode ser palpada no aspecto plantar medial da parte média do pé.
– Nenhuma das deformidades podem ser corrigidas com manipulação.
– O arco não pode ser criado e nem a cabeça do tálus coberta pelo navicular.
Exames de Imagem
RX em Perfil do pé em flexão plantar (mantém luxação dorsal do navicular) e dorsiflexão máxima (mantém flexão plantar tálus e calcâneo). Mostra flexão plantar do tálus e o ângulo tálus- primeiro metatarso está alterado.
Anatomia Patológica
Contraturas anormais dos músculos extrínsecos, tais como o tibial anterior, extensor longo do hálux, extensor curto do hálux, fibular terceiro, fibular longo, fibular curto e tendão calcâneo.
– Tendão do fibular longo e curto exibem subluxação anterior no maléolo lateral.
– Atrofia e subluxação anterior do tibial posterior com relação ao maléolo medial.
– Mínimo contado da superfície posterior do Tálus com a Tíbia.
– Calcâneo com intensa rotação externa e eversão, encontrando-se em íntima proximadade com o maléolo lateral.
– Metade plantar do cubóide hipoplásico e sublaxado dorsolateral com relação ao calcâneo.
– Ligamento mola distendido.
– Coluna lateral encurtada (= Pé Plano devido ao valgo retropé)
História Natural
Se não tratado causa incapacitação. A cabeça do Tálus rígida em flexão sustenta a carga e desenvolve calosidades e dor. O calcanhar não entra em contato com o solo. Não ocorre fase de apoio da marcha. Simula uma amputação de Syme, mas sem o coxim plantar.
Tratamento
O início se dá pela manipulção e aplicação seriada de aparelhos gessado. O íntuito é alongamento das partes moles e pele contraídos.
– O normal é que 100% dos casos não obterem a desejada correção, implicando na necessidade de tratamento cirúrgico.
Cirurgia
Talectomia, naviculectomia, artrodese subtalar, artrodese tríplice, e alongamento da coluna lateral. Além disso, deve ser realizada liberação circunferencial em um ou dois estágios.
A talectomia é uma forma destrutiva, devendo ser evitada em crianças menores, sendo as liberações mais indicadas.
Em crianças maiores conbinasse a liberação com a naviculectomia.
– < 2 anos: liberação dorso-lateral (reduz antepé no retropé) e liberação póstero-lateral (alongamento do tendão calcâneo)
– > 2-3 anos: naviculectomia (coluna lateral < coluna medial) + liberação póstero-lateral
– Adolescente e adulto: artrodese tríplice
Complicações
Necrose do tálus, supercorreção, artrose.
Prognóstico
Mesmo com o tratamento cirúrgico tendo boa eficácia, existe elevada incidência de artrite degenerativa e posterior necessidade de artrodese subtalar e tríplice.