Alongamento Ósseo

Inicialmente a técnica era realizada com fixadores externos circulares (Ilizarov), entretanto com o aperfeiçoamento da mesma e o desenvolvimento de novas tecnologias, dispomos hoje em dia de diversos tipos de implantes para realizar o mesmo tratamento, sendo a escolha destes realizada pelo cirurgião em conjunto com o paciente.

Essa técnica permite tratar diversas patologias como, traumas graves, defeitos ósseos, osteomielite, deformidades congênitas, consolidação viciosa (deformidades pós fratura), pseudartrose (não consolidação de uma fratura) e realizar alongamento para discrepância entre membros e alongamento para baixa estatura. 

Distração osteogênica

A distração osteogênica é uma técnica de alongamento ósseo que envolve a distração lenta e controlada após uma osteotomia minimamente invasiva realizada cuidadosamente para não lesar o suprimento sanguíneo do osso local.

O procedimento é realizado no centro cirúrgico, sob anestesia raquidiana, bloqueio e sedação ou anestesia geral, sendo a escolha deste realizada pelo anestesista.

Hoje em dia existe uma infinidade de implantes, externos e internos para realizar tal procedimento.

Fixadores Externos: Ficam posicionados externamente ao membro conectando o osso ao fixador por pinos de schanz ou fios de kirschner. Tais fixadores podem ser circulares, monolaterais ou Circular hexapodal.

Implantes Internos: Ficam posicionados internamente ao membro. Ex.: hastes intramedulares (Sistema ISKD, Precice Nail e etc.).

Fases do alongamento

Fase de distração (ou de alongamento)

É a fase em que realmente se alonga o osso, onde as duas partes do osso são afastadas uma da outra. A taxa de distração pode variar, mas pode chegar a 1mm por dia. À medida que os ossos são alongados, os músculos são esticados, reduzindo gradualmente a abrangência dos movimentos, pelo que a fisioterapia é um componente essencial para o tratamento ser bem sucedido (sem perda de função), e começa assim que a pessoa sai do hospital.

Fase de consolidação

Quando deixam de ser feitos ajustes ao fixador começa a fase de consolidação, na qual se permite que o osso regenere com o novo comprimento. A fisioterapia continua até ao fim desta fase.

Como Funciona?

Inicialmente é colocado o implante externo ou interno e após a fixação óssea do mesmo realizamos a corticotomia (corte ósseo).

A corticotomia é realizada visando cortar somente a cortical óssea preservando o periósteo, endósteo, medula óssea assim como os músculos e tecidos moles das proximidades. Primeiramente realizamos microperfurações na cortical óssea e após utilizamos um osteótomo para completar o corte.

Diferentes técnicas de corticotomia já foram descritas, entretanto as que tem melhor resultados são as de baixa energia, pois levam a uma menor lesão dessas estruturas.

Após realizada a corticotomia o paciente passa por um período de repouso de 7 dias, posteriormente iniciamos o alongamento ósseo.

O alongamento ósseo é realizado na velocidade de 1mm/dia dividido em 4 regulagens/dia, sendo essa velocidade aumentada ou diminuída dependendo do metabolismo ósseo do paciente ou do osso a ser realizado o procedimento.

Exemplo: Idosos, por terem uma formação óssea mais lenta, podemos alterar a velocidade do alongamento para 0,5 – 0,75mm/dia e crianças devido a essa formação mais acelerada podemos aumentar para 1,25mm/dia.

Cada paciente é avaliado de acordo com suas particularidades, estilo de vida, idade e condições clínicas.

As regulagens são de fácil execução e as primeiras são realizadas no consultório médico onde o paciente aprende e tira suas dúvidas para posteriormente realizá-las em casa.

Depois de atingir o alongamento programado entramos da fase de neutralização onde não são mais realizadas regulagens. Nesta fase observamos a formação de calo ósseo e iniciamos a liberação progressiva de carga. Após passamos para fase de dinamização onde convertemos o sistema de fixação do modo estático para dinâmico permitindo assim micromovimento no regenerado durante a aplicação de carga no membro. 

A formação de tecido ósseo por essa técnica apresenta as mesmas propriedades biomecânicas de qualquer outro osso do corpo humano estando o paciente apto a retornar para suas atividades ao final do tratamento.

Observação:

A realização de tal procedimento com serra óssea está contraindicada por dois motivos:
– Causa lesão das estruturas descritas acima e alteração do suprimento sanguíneo local levando a uma formação de regenerado ósseo deficiente;
– Leva a um aumento da temperatura óssea ocasionando o que chamamos de osteonecrose térmica (a morte de células ósseas no local do corte decorrente do aumento de temperatura causado pela serra).

Quanto tempo leva para formar osso novo?

A consolidação do regenerado ósseo demora 1,5 – 2 meses para cada centímetro de alongamento realizado.

Ex: Alongamento de 5 cm levará de 7,5 meses – 10 meses para ocorrer a consolidação completa.

Esse tempo pode variar para mais ou para menos dependendo da idade, condições clínicas, estilo de vida entre outros fatores.

Quantos centímetros posso alongar um osso?

Não existe um limite estabelecido sendo a tensão muscular o principal fator determinante de quantos centímetros podemos alongar por segmento. Após atingirmos a tensão muscular máxima devemos parar o alongamento e deixar o osso regenerar. Em um segundo momento após diminuir a tensão muscular com sessões de fisioterapia e alongamentos musculares podemos realizar novo procedimento e novo alongamento ósseo.

Complicações e Riscos do Procedimento

Rigidez articular: Ocorre pelo aumento de pressão articular em decorrência do aumento da tensão muscular durante o alongamento ósseo. Durante o período de regulagens do fixador externo o acompanhamento no consultório é mais frequente, pois dessa forma conseguimos prever e contornar tal problema.

Atraso na consolidação do regenerado: A qualidade do regenerado depende de vários fatores e da capacidade de cada pessoa de cicatrização. Estabilidade do fixador, grau de preservação da circulação óssea no foco da osteotomia, adequada velocidade do alongamento ou da correção da deformidade, alimentação adequada, consumo de bebidas alcoólicas ou tabaco, níveis de vitamina D séricos.   

Consolidação precoce do regenerado: Mais comum em crianças por terem a formação óssea muito exacerbada. Pode ocorrer quando existe uma excessiva demora em iniciar os ajustes do fixador externo. Período médio de espera é de 7 a 10 dias após o procedimento e um atraso muito grande nesse tempo pode levar a consolidação precoce. Tal complicação também pode manifestar-se quando a velocidade do alongamento está muito lenta ocasionando a consolidação antes de o osso atingir seu comprimento desejado.

A realização de radiografias seriadas nos mostra a qualidade do regenerado e indica a necessidade de aumentar ou diminuir a velocidade do alongamento ósseo.  

Fratura do regenerado ósseo: Para saber a hora de retirar o fixador externo as radiografias devem mostrar corticalização do regenerado ósseo. Em situações em que a corticalização não está bem definida será necessário utilizar muletas após a retirada do implante. Em casos de fratura do regenerado podemos estabilizar o mesmo com implante interno ou externo ou em algumas situações um “brace” (imobilizador parecido com uma tala).

Quebra de fio ou pino: Complicação comum, sendo que quando isso ocorre devemos reposicionar o fio ou pino quebrado para não ocorrer a perda da estabilidade do fixador externo.

Dor: Apesar de visivelmente o fixador externo aparentar causar muita dor a experiência dos pacientes contradiz essa ideia.

Costumamos dizer que o fixador externo dói mais para quem vê do que para quem sente. A dor pode ocorrer em qualquer fase do alongamento sendo na fase das regulagens mais frequente, pois vai criando tensão na pele próxima aos pinos. A dor está mais relacionada com a má higiene da interface pino pele ocasionando uma inflamação local, levando a dor. O grau de dor varia de paciente para paciente, sendo que o estado emocional e os cuidados com o fixador influenciam bastante. Quando um pino ou fio começa a causar dor de difícil controle uma das alternativas é retirar e reposicionar o mesmo.

Infecção no trajeto do pino: infecção do trajeto do pino é uma complicação frequente, entretanto raramente evolui para osteomielite (infecção óssea). O paciente deve ser orientado que tal complicação na região dos pinos é frequente e pode ocorrer mais de uma vez ao longo do tratamento.

É importante durante o tratamento manter os pinos e o fixador higienizado criando uma rotina diária para isso. Na vigência de uma infecção na interface pino pele o tratamento é repouso, antibiótico via oral ou tópico e em alguns casos a remoção do pino está indicada. Em caso de infecção resistente o paciente poderá necessitar de antibiótico endovenoso.

Posso tomar banho com o fixador externo?

O banho diário pode ser realizado com água corrente após a cicatrização das feridas operatórias, desde que sejam tomados alguns cuidados:

  • Utilizar sabão neutro de glicerina;
  • Após o banho secar bem todas estruturas do fixador evitando deixar umidade no local onde os pinos estão em contato com a pele.

Proibido: banho de mar, rios e piscina pelo risco de contaminação da entrada dos pinos e pelos efeitos corrosivos sobre o fixador externo.

Recomendações

  • Evite fumar e o consumo de bebidas alcóolicas;
  • Alimente-se normalmente. Não existe dieta especial;
  • O fixador externo pode transmitir calor ou frio para o seu corpo em dias quentes ou frios. Proteja o fixador do frio com roupas largas ou coloque toalhas em cima nos dias quentes para proteger do sol;
  • Dentro do possível, procure levar a vida que levava antes de usar o fixador.

Correção de deformidades com fixador externo
Última modificação porMarcio R4
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